13 de março de 2009

Padre Antônio Vieira

Padre Antônio Vieira

É considerado um dos homens mais extraordinários do século XVII, por sua atuação política e religiosa no Brasil e em Portugal, e por sua influência na vida cultural e literária em outros países. Sua escrita feita de contrastes e contrapontos, representa muito bem um estilo de época, conhecido como Barroco. Para uma colônia ainda sem representação literária,o Padre Antônio Vieira pode ser perfeitamente considerado o fundador e mestre representante do Barroco Literário no Brasil. A oratória, cuja função social era a propagação da fé e do catolicismo, adquire grande importância priorizando as regras da eloquência e produzindo um discurso engenhoso. Os sermões de Padre Antônio Vieira servem a este propósito: propagar a fé com os recursos da retórica. A língua portuguesa, para ele, é uma língua fundamental. Como exemplo, destaca-se o sermão dedicado a Nossa Senhora do Ó, em que ele fala o tempo inteiro do significado da letra “o”, destacando-a como figura geométrica e como fonema. Sendo assim, o sentido desta palavra está associado à sua forma e ao seu som.


"Sermão da Nossa Senhora do Ó. A figura mais perfeita e mais capaz de quantas inventou a natureza, e conhece a Geometria, é o círculo. Circular é o Globo da terra, circulares as Esferas Celestes, circular toda a máquina do Universo, que por isso se chama Orbe, e até o mesmo Deus,
se, sendo espírito, pudera ter figura , não havia de ter outra, senão a circular. O certo é, que as obras sempre se parecem com seu Autor: e fechando Deus todas as suas dentro em um círculo, não seria esta idéia natural, se não fora parecida à sua natureza(...) O primeiro círculo, que é o mundo, contém dentro de si todas as coisas criadas: o segundo, incriado e infinito, que é Deus, contém dentro em si o mundo, e este terceiro, que hoje nos revela a fé, contém dentro em si ao mesmo Deus: Ecce concipies in útero, et paries Filium: hic erit magnus, et Filius Altissimi vocabitu4. Nove meses teve dentro de si este círculo a Deus; e quem pudera imaginar, que estando cheio de todo Deus, ainda ali achasse o desejo capacidade e lugar para formar outro círculo? Assim foi; e este novo círculo formado pelo desejo, debaixo da figura e nome do O, é o que hoje particularmente celebramos na Expectação do parto já concebido : Ecce concipies, et paries. De um e outro círculo, travados entre si, se comporá o nosso discurso, concordando ( que é a maior dificuldade deste dia) o Evangelho com o título da Festa, e o título com o Evangelho. O mistério do Evangelho é a Conceição do Verbo no ventre virginal outro círculo; o que pretendo mostrar, em um e outro, é que assim como o círculo do ventre virginal na Conceição do Verbo foi um O que compreendeu o Eterno. Tudo nos dirão, com a Graça do Céu, as palavras que tomei por tema: Ave Maria. (Vieira, 2002, p. 11)."

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